Sobre a Revista
Trata-se de uma revista eletrônica cujo conteúdo está aberto para consulta da comunidade acadêmica. O formato de periódico a aproxima dos estudantes e professores da UNIJORGE, assim como dos de outras instituições de ensino, pesquisadores e técnicos. Com isso, buscamos colaborar para a divulgação do conhecimento científico para quem trabalha diretamente com ambiente, saúde e educação, sendo mais um esforço na redução da lacuna entre a pesquisa e a prática profissional, além de incentivar para a atuação comprometida por parte dos profissionais das ciências biológicas.
Essa atuação comprometida requer dos biólogos formados ou em formação a capacidade de análise crítica, de inovação e de investigação científica diante de problemas que surgem na sua atividade, devendo traduzir-se em soluções adequadas, numa perspectiva ética e socialmente referenciada.
Construir soluções adequadas exige conhecer o contexto, reconhecer o que é peculiar em cada ecossistema, em cada comunidade, em cada escola, em cada planta, em cada animal, em cada objeto que tomamos como tema de estudo. Significa, também, tentar compreender as aparentes contradições com as quais nos deparamos em nossa busca de compreensão do mundo: o aluno inteligente que não aprende; o professor que aprende quando pensa apenas ensinar; a comunidade que zela pelo ambiente mesmo sem ter noções da ciência Ecologia; a floresta exuberante em solo pobre e raso; a planta que não se queima, mas que propaga o fogo... Significa ir além da aparência.
O Candombá (Vellozia sincorana L.B.Sm. & Ayensu) é uma planta endêmica da Chapada Diamantina, que possui caule grosso e fibroso e que apresenta grande resistência às queimadas. Apesar disso, produz uma resina que queima muito facilmente, mesmo quando úmida, favorecendo a propagação de incêndios. Freqüentemente, observa-se seu caule revestido apenas por vestígios de folhas secas, chamuscadas pelo fogo. Suas folhas são usadas, tradicionalmente, para acender o fogão a lenha. Citada por Euclides da Cunha, em Os Sertões, publicado em 1902:
[...] aquela flora agressiva abre ao sertanejo um seio carinhoso e amigo. [...] Cercam-lhe relações antigas. Todas aquelas árvores são para ele velhas companheiras. Conhece-as todas. Nasceram juntos; cresceram irmamente; cresceram através das mesmas dificuldades, lutando com as mesmas agruras, sócios dos mesmos dias remansados. O umbu desaltera-o e dá-lhe a sombra escassa das derradeiras folhas; o araticum, ouricuri virente, a mari elegante, a quixaba de frutos pequeninos, alimentam-no a fartar; as palmatórias, despidas em combustão rápida dos espinhos numerosos, os mandacarus talhados a facão, ou as folhas dos juás – sustentam-lhe o cavalo; os últimos lhe dão ainda a cobertura para o rancho provisório; os caroás fibrosos fazem-se cordas flexíveis e resistentes... E se é preciso avançar a despeito da noite, e o olhar afogado no escuro apenas lobriga a fosforescência azulada das cumanãs dependurando-se pelos galhos como grinaldas fantásticas, basta-lhe partir e acender um ramo verde de candombá e agitar pelas veredas, espantando as suçuaranas deslumbradas, um archote fulgurante... A natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu, indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos. (CUNHA, 2005, p. 87, grifo nosso).
Nomear nossa revista de Candombá é uma forma de manifestarmos nosso compromisso com os contextos locais e nossa intenção de superarmos o deslumbramento diante das contradições com as quais nos deparamos em nossa experiência de pesquisa. Através da atitude investigativa, devemos buscar explicar o inusitado, o extraordinário, o inesperado, mas, o que é mais importante, sem nunca deixarmos de continuar nos surpreendendo, sem nunca perder o encantamento. Assumindo o seu caráter contraditório, nossa tarefa é DESENCANTAR, sem deixar de se ENCANTAR...
REFERÊNCIA
CUNHA, Euclides de. Os sertões. Disponível em http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/autores/euclidesdacunha/ Acesso em: 10 out. 2005